- 16 de dezembro de 2025
- Posted by: joaojorge
- Category: AME
A psicopatologia está conceituada como o estudo do
sofrimento psíquico, causas e intervenções clínicas. Embora “patologia” remeta à doença, a psicanálise privilegia o termo “sofrimento psíquico”, evitando a patologização do indivíduo e o reforço de sua dimensão adoecida.
A psicopatologia psicanalítica implica uma abordagem que intervém pela análise do inconsciente. Distingue-se da psicopatologia psiquiátrica – predominantemente descritiva e explicativa – por ser uma ciência fenomenológica, que busca compreender a experiência subjetiva singular de cada indivíduo.
Atualmente, a Psicanálise estabelece seu diagnóstico diferencial entre três estruturas principais: as psiconeuroses edípicas (ou de transferência), as narcísicas e as antinarcísicas (Silva, 2024). Este texto abordará de forma preliminar as psiconeuroses narcísicas.
As psiconeuroses narcísicas caracterizam-se por um investimento libidinal predominante no próprio eu, em detrimento do objeto. Seu principal mecanismo de defesa contra as pulsões sexuais é a recusa da realidade, ou, segundo Lacan (1985), a foraclusão. Nessas situações, emerge um conflito intenso entre o real e o ideal (imaginário), o exterior e o interior, o princípio de realidade e o princípio do prazer, levando o Eu a não suportar a tensão e a cindir-se (Freud, 2010).
Em “A divisão do Ego no processo de defesa” (1938), Freud elucida que a cisão do Eu ocorre devido à reação dual da criança. Por um lado, ela rejeita a realidade por meio de mecanismos específicos, não aceitando a proibição. Por outro, reconhece o perigo inerente à realidade, admitindo a angústia como sintoma de sofrimento e, então, busca se defender.
Para Freud, as psicopatologias enquadradas nas psiconeuroses narcísicas são a psicose (incluindo esquizofrenia e paranoia) e a melancolia. Contudo, acrescentam-se atualmente a psicose maníacodepressiva, o transtorno de personalidade borderline e as perversões (como fetichismo, sadismo e masoquismo), coletivamente denominadas “não-neuroses” (Minerbo, 2019).
Referências:
FREUD, Sigmund. O Eu e o ID. Em: Obras Completas: O Eu e o Id, “Autobiografias” e outros textos. São Paulo, Companhia das Letras, 2010 (volume XVI.)
LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 3: As psicoses (1955-1956). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. MINERBO, Marion. Neurose e não neurose. São Paulo: Blücher, 2019.
SILVA, Manoel. Para introduzir o antinarciso e a pulsão primária em Psicanálise, Guairacá Revista de Filosofia, Guarapuava-PR, edição/volume (40), página 99-135, 2024.
Priscila Cristina Vidal Martins
Analista Membro da Escola
Contato: vidalpris@gmail.com
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